Ex-ministro da Casa Civil do governo Jair Bolsonaro (PL), o general Walter Braga Netto disse nesta terça-feira (10/6), durante o seu interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF), que nunca entregou dinheiro em uma sacola de vinhos ao ex-ajudante de ordens Mauro Cid. O militar contou que Cid o procurou para pedir se o Partido Liberal (PL) poderia arranjar algum dinheiro. Braga Netto disse que achou que o dinheiro era para pagar alguma conta atrasada de campanha e, por isso, orientou Cid a falar com o tesoureiro do partido. Após o tesoureiro negar, o assunto “morreu”, assegurou o general.
“Eu não tinha esse dinheiro, eu não tinha contato com empresários. Os empresários estavam mais interessados no Bolsonaro do que em mim”, afirmou na Corte.
Conheça o JOTA PRO Poder, plataforma de monitoramento que oferece transparência e previsibilidade para empresas
Braga Netto está preso de forma preventiva por conta da ação que investiga a tentativa de golpe de estado em 2022. Logo no início de seu interrogatório, o ministro Alexandre de Moraes fez as perguntas de praxe, entre elas se o militar já tinha sido preso. Ele respondeu com “eu estou preso, e Moraes emendou: “Eu sei, fui eu quem decretei”.
O general confirmou o encontro com Cid e outros militares em seu apartamento, na Asa Sul, em Brasília. Mas disse que não conhecia o grupo e que o ex-ajudante de ordens queria apresentá-los a. Segundo Braga Netto, eles conversaram sobre a intervenção militar na segurança pública do Rio de Janeiro e não sobre um golpe de estado.
Na avaliação de Braga Netto, Cid “faltou com a verdade” sobre a reunião, que não seria com as Forças Especiais Kids Pretos, mas um encontro rápido de 20-30 minutos. Na frente de Moraes, Braga Netto disse que “a eleição de 2022 não teve fraude” e que não orquestrou ataques virtuais contra os ex-comandantes do Exército, Freire Gomes, e da Aeronáutica, Baptista Júnior, após os dois negarem a participação na trama golpista.
O general negou a existência de uma minuta de golpe e dos planos Copa 2022 e Punhal Verde e Amarelo — que previa a anulação das eleições e o assassinato de autoridades públicas, como o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, o vice, Geraldo Alckmin, além do ministro Alexandre de Moraes. Sobre o cargo de transição que teria após o golpe, Braga Netto disse que as pessoas tinham o costume de colocar o nome dele em eventos e documentos sem a devida autorização.
Quando questionado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, sobre a pasta encontrada pela Polícia Federal na sede do PL com escritos “memórias importantes” com informações sobre ofensivas contra o STF e ruptura institucional, Braga Netto disse que nunca recebeu tais documentos.
Em relação aos acampamentos nas portas de quartéis e o 8 de janeiro, o general disse que nunca visitou e que só passou de moto em frente. A orientação para não ir aos acampamentos seria de Bolsonaro. O ex-ministro disse que os conservadores são mais “ordeiros” [em relação à esquerda].
Questionado por Moraes sobre o contato que o general teria feito com o pai do ex-ajudante de ordens Mauro Cid para conversar sobre a delação premiada que havia sido assinada por ele, Braga Netto negou. Ele afirmou que o motivo do contato se deu porque o general Lourena Cid queria pedir ajuda política ao filho.