Investindo no futuro verde: o capital privado como propulsor da transição energética

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A transição global para fontes de energia mais limpas e sustentáveis está em pleno andamento, impulsionada pela urgente necessidade de enfrentar as mudanças climáticas e reduzir as emissões de carbono. No coração dessa transformação estão as startups de energia limpa, cujas inovações em tecnologias renováveis têm o potencial de remodelar o panorama energético mundial.

Segundo a Bloomberg NEF, o investimento global em transição para energia de baixo carbono aumentou 17% em 2023, atingindo o recorde de US$ 1,77 trilhão. Este número não apenas reflete o compromisso crescente com a sustentabilidade ambiental, mas também destaca a resiliência da transição energética, mesmo diante de turbulências geopolíticas, taxas de juros elevadas e inflação de custos. Dentro desse espectro de investimentos, o transporte eletrificado emergiu como o setor líder, com aumento de 36%, para US$ 634 bilhões, ultrapassando o setor de energias renováveis, que também viu crescimento significativo​​.

No entanto, a distribuição geográfica desses investimentos revela desigualdades significativas, com a China, a União Europeia, os EUA e o Reino Unido liderando o caminho, enquanto outras regiões lutam para acompanhar devido a taxas de juros mais altas, ambientes políticos incertos e altos custos de capital. Esta realidade ressalta a indispensabilidade do capital privado, cuja mobilização é crucial para superar esses desafios, garantindo uma transição energética ampla e equitativa que promove tanto a sustentabilidade ambiental quanto a equidade econômica global.

Um aspecto fundamental dessa forma de investimento é a capacidade de assumir riscos inerentes ao desenvolvimento de novas tecnologias. Startups no setor de energia limpa frequentemente exploram territórios inovadores, desde a geração de energia renovável até soluções de eficiência energética e armazenamento de energia.

O mundo hoje avança para metas ambiciosas de redução de carbono, como o Acordo de Paris, que visa limitar o aumento da temperatura global abaixo de 2°C, de preferência a 1,5°C, em comparação aos níveis pré-industriais​​, e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 7 (ODS 7), o qual visa garantir o acesso universal à energia limpa e acessível até 2030​​, de forma que a colaboração entre esses investidores e startups inovadoras será cada vez mais importante para alcançar um futuro energético sustentável e de baixo carbono.

Casos de sucesso globais

Ao redor do mundo, vários casos de sucesso ilustram o impacto significativo do capital privado na aceleração de startups de energia limpa. Esses exemplos não apenas demonstram o potencial de retorno sobre o investimento em tecnologias sustentáveis, mas também ressaltam a importância na promoção de soluções inovadoras para o desafio das mudanças climáticas.

Um exemplo emblemático é a Tesla, empresa que revolucionou a indústria automotiva com seus veículos elétricos. Inicialmente apoiada por investimentos significativos de capital de risco​​como a Compass Technology Partners e a Valor Equity Partners, em suas rodadas de investimento series A e Series B, respectivamente – a Tesla superou desafios iniciais para se tornar líder no mercado de veículos elétricos, provando que é possível combinar sustentabilidade com sucesso comercial.

Outro caso de sucesso é a Orsted, empresa dinamarquesa que transformou seu modelo de negócios de uma companhia de petróleo e gás para se tornar um líder mundial em energia eólica offshore. Esta transformação foi apoiada por investimentos estratégicos com perfil de alto risco,​​ que possibilitaram a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias eólicas offshore, resultando em significativa expansão de sua capacidade de geração de energia renovável.

A Orsted estabeleceu o objetivo de transformar seu mix de geração de energia de 85% baseado em combustíveis fósseis para 85% renovável até 2040, uma meta que alcançou em 2019, 21 anos antes do previsto. Esta rápida transformação foi possibilitada pela expansão global da empresa, incluindo a abertura de escritórios fora da Europa e a aquisição de empresa desenvolvedora de energias renováveis nos EUA, especializado em energia eólica onshore e solar, mostrando como empresas existentes podem pivotar para modelos de negócios mais sustentáveis, mediante alocação eficiente de recursos.

A chinesa BYD Company é um exemplo notável de sucesso, especializando-se na produção de veículos elétricos e baterias de armazenamento de energia. Um dos investidores mais relevantes é a Berkshire Hathaway, comandada por Warren Buffett, que investiu cerca de $230 milhões nas ações da BYD em 2008 durante a crise financeira global. Outros investidores importantes incluem a Blackrock e a Himalaya Capital Management. Esses investimentos têm sido cruciais para a expansão da BYD, permitindo que a empresa crescesse rapidamente e se tornasse uma das maiores fabricantes de veículos elétricos do mundo​​.

Casos de sucesso no Brasil

No Brasil, o cenário de startups de energia limpa é ainda incipiente, porém diversificado e promissor, com várias empresas emergentes liderando inovações significativas no setor. Os exemplos incluem a catarinense Voltbras, especializada em mobilidade elétrica, que desenvolveu uma plataforma para gerenciar postos de recarga para veículos elétricos. Com aportes que superaram a marca de R$15 milhões, a startup recebeu investimentos de entidades como MSW Capital, EDP Ventures Brasil, Perseo (programa da Iberdrola) e a Domo Invest, demonstrando o potencial do mercado brasileiro em soluções de mobilidade sustentável.

Outro exemplo de inovação é a parceria entre Furnas e o Senai para combater a Covid-19 envolveu um investimento de R$3 milhões em startups que desenvolveram tecnologias inovadoras focadas na saúde e segurança nos ambientes de trabalho, especialmente para o setor elétrico. As empresas selecionadas, Copacabana Holding e Simex do Rio de Janeiro, e a Intechno do Espírito Santo, trabalharam em soluções como a esterilização de EPIs e a pulverização de ambientes de trabalho utilizando luz ultravioleta. Este projeto foi conduzido com a assistência do Instituto Senai de Inovação em Sistemas Virtuais de Produção (ISI SVP), demonstrando a capacidade das startups brasileiras de responder a desafios emergentes com tecnologias limpas e inovadoras​.

Além disso, o Brasil tem se destacado pela crescente comunidade de energytechs, com 236 empresas identificadas no segmento, de acordo com levantamento de 2022 pela Liga Ventures. Estas startups estão focadas em áreas críticas como eficiência energética, geração compartilhada, análise de dados e gestão de consumo, sinalizando forte impulso para a inovação e a sustentabilidade no setor energético brasileiro. A maioria dessas startups está concentrada nas regiões Sul e Sudeste, com São Paulo liderando como o estado com o maior número de iniciativas. Esse dinamismo reflete o potencial do Brasil para liderar a inovação em energia limpa na América Latina, apoiado por uma combinação de políticas favoráveis, investimento em inovação e uma forte demanda por soluções sustentáveis.

Esses casos sublinham a importância de um ecossistema de inovação aberta, onde grandes empresas e startups colaboram para avançar na transição energética. A abertura do mercado livre de energia para consumidores de alta tensão a partir de 1º de janeiro de 2024 foi anunciada pelo Ministério de Minas e Energia (MME). Esta medida, segundo a Portaria 672/2022, faz parte de um esforço contínuo para modernizar o setor elétrico brasileiro, permitindo que todos os consumidores atendidos em alta tensão possam comprar energia elétrica de qualquer fornecedor. Essa abertura de mercado visa promover inovação e competitividade no setor, oferecendo novas oportunidades para startups de energia limpa.

Desafios e oportunidades

Um dos principais desafios enfrentados por startups de energia limpa é a alta dependência de políticas públicas e incentivos governamentais. A indústria de energia renovável, por exemplo, tem sido significativamente impulsionada por subsídios e políticas de apoio em vários países. No entanto, a instabilidade política ou mudanças súbitas na legislação podem afetar negativamente o desenvolvimento e a implementação de projetos de energia limpa. Em contrapartida, essa dependência cria oportunidades para que empresas impulsionadas pelo capital privado possam desenvolver tecnologias capazes de reduzir custos e melhorar a eficiência, tornando as energias renováveis mais competitivas em relação às fontes tradicionais de energia, mesmo sem subsídios governamentais.

Além disso, a transição para uma economia de baixo carbono abre um vasto campo para a inovação em eficiência energética e novos modelos de negócios, como a geração distribuída e o financiamento coletivo de projetos de energia renovável. Startups que oferecem soluções para melhorar a eficiência energética em edifícios e indústrias, ou que facilitam o acesso a energias renováveis para pequenos produtores e consumidores, encontram um terreno fértil para crescimento. Estas empresas não apenas respondem às demandas por sustentabilidade, mas também podem contribuir para democratizar o acesso à energia, gerando impacto social positivo.

Conclusão

Olhando para o futuro, é evidente que a colaboração entre startups, investidores, governos e a sociedade é fundamental para promover uma transição energética eficaz e sustentável. O engajamento contínuo e o apoio a soluções de energia limpa não apenas contribuem para mitigar as mudanças climáticas, mas também oferecem benefícios econômicos significativos, promovendo a inovação e criando empregos. À medida que avançamos, a capacidade de adaptar-se, inovar e colaborar determinará o sucesso na realização de um futuro energético mais limpo, resiliente e sustentável para todos.